quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Lembro-me tão bem

... do dia em que decidi ir a um psicólogo. Marquei e fui a uma única consulta.
Entrei, sentei-me e comecei a falar, a falar. Foram poucas as perguntas. Uma hora inteira a falar sem parar.

Sabe, é que eu não quero isto, não acredito que seja por aqui. Não acho que as coisas tenham de ser assim. Assim não faz sentido. E a minha filha... e daqui a uns anos? Como será daqui a uns anos? Mas assim não dá. Entende? Pois é, entende perfeitamente. E o resto? E tudo o resto?

E as perguntas surgiam e eu respondia. Foram 60 minutos que pareceram 5. No fim, ela olhou para o relógio e disse-me:

O tempo acabou. Já passou uma hora. Sabe uma coisa? Você tem o seu pensamento todo estruturado. Não há falhas, não há dúvidas. Não há nada de irracional em tudo o que me disse. Não precisa de um psicólogo. O que você tem é falta de coragem. E falta de coragem ninguém pode ter a vida toda.

75 euros depois saí com um carimbo a dizer: COBARDE. Conseguia imaginá-lo ali, vermelho, escarrapachado no centro da minha testa. Via-o sempre que me olhava ao espelho.

O que ela não sabe, e talvez nunca venha a saber, é que me tirou um peso de cima. Saí de lá carimbada é certo. Mas o que ela me disse, serviu-me para encher o peito de ar e mudar a minha vida.

3 comentários:

  1. A mim aconteceu-me algo parecido. Mas foram necessárias duas sessões ;)

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  2. Só depois de muita medicação, neurologista, psicólogo e psiquiatra é que tive o privilégio de ouvir algo semelhante, deste último. Foi depois de mudar a minha vida.

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  3. Afinal precisava do psicólogo porque precisava que lhe dessem esse empurrão mesmo que tenha sido dado com um carimbo desses. Um abraço!

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