sábado, 27 de fevereiro de 2010

Conversas entre mãe e filha

_ Mãe hoje fizeste-me chorar, quando gritaste comigo daquela maneira...
_ Foi? Tinhas que dar o teu almoço inteirinho ao cão?
_ Ele estava cheio de fome...
_ Ele está sempre cheio de fome... tu é que não querias comer. Fiquei triste contigo, fiz o teu almoço com tanto amor...
_ Eu sei mãe, se calhar até tens razão, mas eu fico triste e não gosto quando gritas comigo.
_ Eu também não gosto de gritar contigo...
_ Então não grites mais senão ponho-te de castigo.

(ops!)

Lembrar-me de mim...

... das coisas que gosto de fazer e efectivamente fazê-las, sabe bem... tão bem.

Sábado com filha numa festa de anos, deu-me tempo para ir ver uma peça de ballet contemporâneo. Quando a fui buscar estive uma hora na converseta com as amigas, enquanto os putos brincavam e à noite um jantar com amigos que já não via há muito tempo. Uma santa filha que às 21H30 adormeceu e dormiu o jantar inteirinho... chegar a casa com o corpo cansado, mas com a alma cheia de momentos bons.

Hoje estou feliz.

Tentar sair...

... de vestidinho preto, num apartamento com um labrador amarelo é tarefa praticamente impossível.

Porque é que eu não me lembrei das saídas de sábado à noite, na altura em que comprei um cão??? Podia ter-me saído um labrador preto que a coisa corria melhor.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Dia D

Foi hoje. Depois de uma noite mal dormida, acordei com o mundo enfiado na garganta. Arrastei-me para o duche e fiquei lá uma boa meia hora a aquecer o corpo e a refrescar as ideias. Vesti qualquer coisa, pedi desculpas ao meu cão, por não ter forças de ir com ele à rua e pedi ao meu corpo para me levar até ao carro. Fui no caminho a ouvir aquela música a que chamo do "empurra p´ra frente". Estacionei, parei alguns minutos a ganhar coragem, a acalmar o coração. Subi as escadas e fiquei ali, com vista privilegiada, de quem chega primeiro e assiste ao espectáculo na primeira fila. Vi-te subir e o coração ao pulos. Estava mesmo a acontecer e eu não podia fugir.
Sentei-me numa sala fria com o corpo ainda mais gelado. E ouvi ler em voz alta o meu falhanço. Sra D. xpto e Sr xpto concordam com o que acabei de ler? Como quem diz: concordam que os vossos 11 anos de vida em comum acabam aqui? Neste momento. Concordam que viveram dias felizes, mas que os infelizes ganharam e que por isso, desistem. Desistem aqui. Têm a certeza? Querem voltar a ser felizes, ou acham que já não conseguem?
E eu, que sabia bem o que estava ali a fazer, revi a minha vida. Flashes de tantos momentos. Lembrei-me do nascimento da nossa filha, daqueles minutos de pura alegria... das lágrimas dele. Dela pequenina suja e cheia de sangue no colo dele. E eu cansada, mas com uma felicidade que não se explica, orgulhosa ... É o teu pai filha, é o teu pai.
Lembrei-me de subir ao altar de vestido branco e véu sobre a cabeça. Lembrei-me das noites de verão que dormimos na praia, livres, completamente soltos de qualquer responsabilidade.
Como é que a vida nos ficou tão pesada? Como é que me sento direita, postura de quem não está à vontade, ao teu lado, ainda mais direito, como se não te conhecesse de lado nenhum? Sem mais nada para dizer. Tão desconfortável. Tudo tão azedo.

Como tudo na vida... já passou. Já está. A manhã passou e virão outras certamente mais felizes.
Mesmo sabendo que é este o caminho, hoje não me consigo sentir feliz. Complicado entender? Eu sei que é... mas não mando no que sinto.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Maravilhas da natureza

O meu cão é o único animal no prédio, mas tenho um vizinho que rosna (e muito)!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Momento gaja do dia

Não bastava dizeres que ela cozinha bem e tal e coiso... ???

(É que ainda por cima ela tem cá um par de mamas, escrito assim em pequenino para ninguém ler. Não é que eu queira uns.... nahhhhhh)

Tou aqui...

... vai, não vai... para ir dar cabo dos crepes de chocolate do Pingo Doce que tenho ali no congelador!

(eu não vou sobreviver a este Inverno... )

Contra factos não há argumentos

Facto nº1:
Perdi o comando do ar condicionado dentro da minha própria casa. E sim, já a revirei toda de uma ponta à outra. Já levantei colchões, estrados e já vi dentro do frigorífico e da arca congeladora. Não está, já não existe, desapareceu. E agora, tenho de desligar o quadro, pois a ficha está algures dentro das paredes de casa.

Facto nº2:
O autoclismo despeja-se sozinho durante a madrugada. E eu acordo sempre à espera de ver alguém sair da casa de banho. Mas não, é ele sozinho.

Facto nº3:
Tenho formigas. Muitas formigas que entram pelo esquentador e passeiam-se pela minha cozinha. Já as exterminei umas 3 vezes. Hoje penso que ganhei.

Conclusão. Eu comprei umas vitaminas e vou tomar um comprimido por dia, porque por momentos pensei que tinha um fantasma a viver dentro de casa. Que me gamou o comando do ar condicionado porque tem frio, que só vai à casa de banho durante a noite e que come doces na minha cozinha e deixa migalhas por todo o lado para chamar as formigas.

Mini Raspanetes

_ Ó mãe, ó mãe ... sabes o cão portou-se lindamente mal.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Da imaginação

Esta é a história de uma gaivota
de tanto voar,
ao céu foi parar.
Encontrou uma nuvem
que parecia algodão doce,
deu-lhe uma dentada
e a nuvem assustou-se.


_ Já viste o que chove?
_ Achas que as nuvens ainda estão a chorar com a dentada da gaivota?
_ Hum... acho que não.
_ Então porque é que as nuvens choram tanto mãe?
_ Acho que choram porque têm saudades da gaivota.

11 anos depois

A saudade é um sentimento eterno.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Partiste hoje...

...com a mesma calma com que viveste os teus dias.

De ti guardo muita coisa. Guardo as horas em que me falaste da vida, fascinado com o mundo que conheceste.
Chorei quando soube que acabou (est)a tua viagem. Chorei só por alguns segundos, até me lembrar do teu sorriso. Maravilhoso e inspirador.


Vou guardar e abraçar tudo o que me deste. Mas vou ter saudades tuas avô.

O céu ganhou hoje uma estrela muito brilhante. Eu acredito.

Saudades deste dia

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

I

Deixa-me sentar numa nuvem
a mais alta
e dar pontapés na Lua
que era como eu devia ter vivido
a vida toda
dar pontapés
até sentir um tal cansaço nas pernas
que elas pudessem voar
mas não é possível
que tenho tonturas e quando
olho para baixo
vejo sempre planícies muito brancas
intermináveis
povoadas por uma enorme quantidade
de sombras
dá-me um cão ou uma bola
ou qualquer coisa que eu possa olhar
dá-me os teus braços exaustivamente
longos
dá-me o sono que me pediste uma vez
e que transformaste apenas para
teu prazer
nos nossos encontros e nos nossos
dias perdidos e achados logo em
seguida
depois de terem passado
por uma ponte feita por nós dois
em qualquer sítio me serve
encontrar o teu cabelo
em qualquer lugar me bastam
os teus olhos
porque
sentado numa nuvem
na lua
ou em qualquer precipício
eu sei
que as minhas pernas
feitas pássaros
voam para ti
e as tonturas que a planície me dá
são feitas por nós
de propósito
para irritar aqueles que não sabem
subir e descer as montanhas geladas
são feitas por nós
para nunca nos esquecermos
da beleza dum corpo
cintilando fulgurantemente
para nunca nos esquecermos
do abraço que nos foi dado
por um braço desconhecido
nós sabemos
tu e eu
que depois de tudo
apenas existem os nossos corpos
rutilantes
até se perderem no
limite do olhar
dá-me um cigarro
mesmo que seja só um
já me basta
desde que seja dado por ti
mas não me leves
não me tires
as tonturas que eu teria
que eu terei
sempre que penso cá de cima
duma altura vertiginosa
onde a própria águia
nada mais é que um minúsculo
objecto perdido
onde a nuvem
mais alta de todas
se agasalha como um cão de caça
leva-me a recordação
apenas a recordação
da vida martelada
que em mim tem ficado
como herança dada há mil e
duzentos anos

deixa que eu fique
muito afastado
silencioso
e único
no alto daquela nuvem
que escolhi
ainda antes de existir






mário-henrique leiria
o surrealismo na poesia portuguesa
antologia organizada por natália correia
frenesi
2002

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Hoje não lhe vou contar a forma como falas comigo. Nem a forma como falas de mim. Hoje não lhe vou contar as coisas que me fazes e como prejudicas a minha vida.
Não o farei hoje, não o farei amanhã, nem nunca. Recuso-me a ser igual a ti.

Porque um dia, ela não vai precisar dos nossos olhos, boca e ouvidos... Um dia ela vai ter os dela.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Sobre a vida ( aos 4 anos )

_ Mãe abre a janela que eu preciso de ver o Mundo.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Sobre o amor ( aos 4 anos )

_ Mãe quando é que devemos desenhar um coração? Quando é amor, ou quando é amizade?

(eu completamente sem resposta) _ Bem...a amizade também é amor. Eu acho que é filha. Sentimos o amor de formas diferentes, mas eu acho que amamos os nossos amigos e a nossa família de uma forma e o nosso namorado ou marido de outra. Da mesma maneira como eu sinto o maior de todos os amores por ti. No entanto também sou tua amiga.

_ Então fecha os olhos.

( eu sem perceber nada lá fechei os olhos e senti um beijo muito pequenino e delicado na minha boca ) _ Estás a dar beijos na boca à mãe??

_ Sim mãe. Ouvi dizer que se dá beijos na boca ao nosso maior amor de todos ... e tu, és o meu amor.

Sobre o tempo

Depois de ti, não tenho pressas. Nem vontade de te contar porque me demoro em coisas tão pequenas.
Depois de ti, sou só eu. Prolongo-me no que sei que a vida tem de mais valioso.

A máquina de fazer espanhóis




( Atenção: este texto contém mais de 30 vezes o verbo chorar )

Este é o meu livro do momento. E nas primeiras 20 páginas já tive uma vontade enorme de chorar. Como se aquelas palavras atingissem os meus sentimentos mais profundos. E eu, que ando uma lamechas de primeira apanha, tudo me dá vontade de chorar. Mas depois choro 2 minutos e a torneira seca. Claro que a vontade de chorar continua presente todos os minutos dos meus dias.
Se estou feliz, tenho vontade de chorar.
Se estou triste, tenho vontade de chorar.
Se tenho raiva, tenho vontade de chorar.
Se estou nervosa, tenho vontade de chorar.
Se quero ser ouvida e não sou, tenho vontade de chorar.
Se tenho vontade de ser compreendida e não sou, tenho vontade de chorar.

E depois existe a vontade de chorar apenas porque sim. Nos dias em que me falta o amor pela vida. O que fazer? Olha por exemplo, ler a Máquina de fazer espanhóis e viver outra vida durante alguns minutos. E aí choro apenas porque tenho lágrimas.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Música #3



but as long as we believe
love doesn´t get older

Porque é que eu tenho medo de te dizer quem sou?

*Escritor: Estou a escrever um livrinho chamado ''Por que é que eu tenho medo de te dizer quem sou?''

Outra pessoa: Queres uma resposta para isso?

Escritor: Essa é a finalidade do livrinho,responder à pergunta.

Outra pessoa: Mas queres a minha resposta?

Escritor: É claro que quero!

Outra pessoa: Tenho medo de te dizer quem sou porque, se eu te disser quem sou, podes não gostar e isso ... é tudo o que tenho.

A vida de um labrador num apartamento T2,

ou aquilo que eu não sabia, mas que agora já sei



1 - O meu cão ressona muito mais do que eu imaginei que ele pudesse ressonar.
2 - O meu cão descobriu que o que fazemos à noite é dormir numa coisa que tem um colchão, a que chamamos de cama e acha que também devia ter uma só para ele.
3 - O meu cão gosta de lamber a cara à minha filha depois dela adormecer.
4 - O meu cão acha que, já que lambe a miúda, também deve lamber as barbies e afins.
5 - O meu cão acha que o bidé é a taça onde ele deve beber água.
6 - O meu cão acha que o elevador serve para ver ao espelho alguém muito bonito e que ele gostaria de conhecer (eu tento explicar-lhe que aquilo é ele... mas ele ainda não percebeu).
7 - Acha também muita piada ao barulho que o rabo dele faz ao bater nas paredes do elevador do ponto 6. Duvido que os vizinhos achem o mesmo.
8 - O meu cão hoje fez um amigo. O primeiro vizinho canino que ele conheceu desde que mudámos de casa.
9 -Descobriu que ter menos espaço faz com que ele esteja sempre muito mais perto de nós.
10 - O meu cão anda feliz. Tenho a certeza que anda!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Ciclos



"Aquilo a que a lagarta chama de fim do mundo, o homem chama de borboleta."

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

G

Tenho o quarto cheio de folhas, rolos e papéis de embrulho.
Tenho o quarto cheio de caixas e fitas de cetim.

Tenho o quarto cheio de livros e fotografias.
E com o copo de leite que ontem bebi.

Tenho o quarto cheio e a alma e o corpo vazios de ti.

Acasos ou sorrisos

Caiu-me o teu sorriso aos meus pés, quando por mero acaso abri um livro, antigo, muito antigo.
Fiquei a olhar para ele. Sem pressas. Sorriso de quando a vida te tratava com carinho e era leve para ti.

Agora sei, porque nunca mais o encontrei. Foi porque o guardaste aqui, com medo que alguém descobrisse que um dia já foste feliz.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A menina do mar



Hoje tivemos um dos mais fantásticos finais de dia a duas ( pronto a três, porque o nosso cão também conta). Tudo por causa desta linda história. Comecei a ler às 9 da noite e só parei quando o livro acabou... ainda foi uma hora inteirinha a ler em voz alta, com entoação.

No final ainda me pediu para lhe explicar algumas coisas que não tinha percebido bem. Perguntou-me porque é que os polvos atacaram o menino. E se o menino não ia sentir saudade da Terra depois de ter ido viver com a Menina do Mar e os seus amiguinhos.

Aqui a mãe, achou deliciosa a forma como ensinam o que é a palavra saudade.

[...]
No dia seguinte, logo de manhã. o rapaz foi ao seu jardim e colheu uma rosa encarnada muito perfumada. Foi para a praia e procurou o lugar da véspera.
- Bom dia, bom dia, bom dia - disseram a Menina, o polvo, o caranguejo e o peixe.
- Bom dia - disse o rapaz. E ajoelhou-se na água, frente da Menina do Mar.
- Trago-te aqui uma flor da terra - disse; chama-se uma rosa.
- É linda, é linda - disse a Menina do Mar, dando palmas de alegria e correndo e saltando em roda da rosa.
- Respira o seu cheiro para veres como é perfumada.
A Menina pôs a sua cabeça dentro do cálice da rosa e respirou longamente. Depois levantou a cabeça e disse suspirando:
- É um perfume maravilhoso. No mar não há nenhum perfume assim. Mas estou tonta e até um bocadinho triste. As coisas da terra são esquisitas. São diferentes das coisas do mar. No mar há monstros e perigos, mas as coisas são alegres. Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.
- Isso é por causa da saudade - disse o rapaz.
- Mas o que é a saudade? - Perguntou a Menina do Mar.
- A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora.
- Ai! - Suspirou a Menina do Mar olhando para a terra. Por que é que me mostraste a rosa? Agora estou com vontade de chorar.
[...]